Frente à campa do Soldado Desconhecido, na Sala do Capítulo do Mosteiro da Batalha, tendo em seu redor representantes de duas gerações de combatentes, um mutilado de guerra em Moçambique, condecorado com a Torre-e-Espada, ergueu a voz para denunciar o crime daqueles que destruíram Portugal, «adulterando deliberadamente a nossa cultura e denegrindo as nossas tradições». Foi no passado 9 de Abril, ao celebrar-se o sexagésimo aniversário da batalha de La Lys.
Em nome de quem falou o major Duarte Pamplona? Em nome de quem afirmou que perdemos a identidade nacional? Em nome de quem lembrou que a recuperação dessa identidade nacional «terá que abranger milhares de portugueses espoliados e expulsos» e só será possível quando «a liberdade, a justiça, a honestidade e o exemplo forem praticados por todos os portugueses, começando pela classe política dirigente»? E que essa mesma classe política, «na qual estão incluídos alguns combatentes da guerra do Ultramar», não conseguiu aproveitar e dirigir a enorme capacidade de ideal, de sofrimento e da dádiva dos Portugueses?
Pois falou em nome de todos nós. De todos nós, os que nos recusamos a aceitar como irremediável a degradação para que nos atiraram, os que estamos fartos de ser pasto da voracidade partidária, os que não pretendemos mais do que ser Portugueses — Portugueses sem rótulo, sem coleira, sem vassalagem, sem opróbio e sem medo.
Aqui ficam palavras suas — que são de todos nós. E aqui fica a sua e nossa esperança em que a Nação portuguesa recupere a identidade perdida, em que os portugueses se reencontrem com o seu destino, em que Portugal se restaure.
Manuel Maria Múrias
(In A Rua, n.º 96, pág. 1, 13.04.1978)