Neste dia, que é dos poucos feriados nacionais que fazem algum sentido, convém não esquecer o que se comemora e o que se recorda.
Nos ultimos anos, desde os anos 70, em que a Espanha entrou num caminho de progresso e futuro, ao contrário de Portugal que entrou no caminho do abismo, a crescente gula espanhola sobre a nossa autonomia politica, social, cultural, económica e territorial faz-se sentir todos os dias como um pesado fardo aos ombros da pátria, já lá têm a nossa Olivença, não deixemos que nos tomem o resto.
Recordo agora algumas passagens um artigo do General Loureiro dos Santos:
Independência de Portugal ameaçada?
General Loureiro dos Santos
"No vizinho peninsular, parece haver quem pressinta a possibilidade de acabar com a independência de Portugal, em proveito próprio. As debilidadespor que passamos, por culpa dos responsáveis políticos portugueses que nostêm governado nos últimos anos, estão a ser percepcionadas como janelas de oportunidade que, se adequadamente aproveitadas, poderão conduzir ao fim do nosso autogoverno. Do que resultariam vantagens para o Estado espanhol e para regiões autónomas da Espanha (?). Naturalmente, em prejuízo da capacidade portuguesa de defender os interesses daqueles que habitam no país que os nossos maiores nos legaram.
A leitura de um artigo do "La Vanguardia", de 19 de Fevereiro de 2005 (véspera das eleições legislativas), assim como a de um passo, significativo a este respeito, da entrevista ao "Expresso", de 22 de Janeiro, quando já decorria o debate eleitoral, por Carod Rovira, líder da Esquerda Republicana da Catalunha, revela bem o apetite de estratos da sociedade do país vizinho.Pelo menos de alguns, mas com assinalável expressão e projecção pública.
Acabar com a independência de Portugal. No "La Vanguardia" faz-se uma análise da crise portuguesa, recorrendo aomais recente eurobarómetro e citando os apenas 38 por cento de portugueses satisfeitos com a sua democracia em comparação com os 57 por cento de médiada União Europeia. Refere a deterioração da situação económica e relaciona-a com a desenvolvida economia de Espanha, nosso primeiro parceiro comercial, com a região autónoma da Catalunha em destaque. E conclui: "Uma relação económica que, para além dos governos em funções, deveria traduzir-se numa maior integração política, de perfil multipolar, para poder ter peso numa nova Europa alargada" (federação?).
A entrevista de Carod Rovira ao "Expresso" vai no mesmo tom. Começando por dizer que o seu objectivo final é a independência da Catalunha no âmbito da União Europeia, não se coíbe de afirmar que, na actual situação, não lhe parece possível tal objectivo, mas é preciso concluir (?) esta "península inacabada". Neste processo, "Portugal, que é a fachada atlântica da península, e a Catalunha, fachada mediterrânica da península, têm vivido de costas viradas para o interior da península e de uns para os outros. Só podemos acabar com isto conhecendo-nos (...) Existem muitas questões na Península Ibérica que só se resolverão satisfatoriamente se forem tratadas com uma mentalidade peninsular." Como existem outras que necessitam de mentalidade europeia e até mundial, assim como muitas outras que exigem mentalidade nacional, acrescento eu.
Carod Rovira termina: "Madrid não pode decidir sozinha em tudo, devemos passar de uma concepção unipolar do Estado para uma outra multipolar, que passe por Lisboa, Barcelona, Bilbau,certamente por Sevilha, e juntos poderemos acabar de alguma forma esta península que nunca foi concluída". Embora terminando por uma frase suficiente ambígua para conter todas asinterpretações que lhe convenham (nomeadamente a transformação da Península numa Confederação de estados ibéricos independentes), ela também pode ser lida como um cenário de transição com uma Península federal, centrada em Madrid (uma vez que reconhece não existirem condições para a Catalunha atingir a independência).
Isto corresponderia à abdicação de Portugal dos atributos de soberania que possui (e que Rovira tanto deseja para a Catalunha, o que é uma flagrante contradição), com tudo o que tal significaria como reforço da instabilidade conflitual na península. Ao mesmo tempo, talvez sem dar conta, atiça os impulsos centralistas de Madrid sobre as regiões periféricas peninsulares, onde verdadeiramente se produz a riqueza, e que são as reais detentoras do potencial estratégico natural, dado o seu acesso ao mar.
A grande lição de tudo isto é que a actual situação de crise económica, senão for resolvida atempadamente, tornar-se-á numa muito séria ameaça à independência de Portugal, além de poder vir a traduzir-se em roturas sociais profundas, de repercussões tremendamente negativas no nosso bem-estar e estabilidade. A sua solução passa pela substituição do actualmodelo económico-social, já esgotado, por outro bem mais rigoroso, susceptível de exigir, pelo menos temporariamente, talvez num largo período, sacrifícios de todos nós.
Os responsáveis políticos agora eleitos terão de seleccionar o essencial e descartar o acessório; agir com lucidez e com despreendimento relativamenteà sua continuação no poder; e ter por ambição ficar na História como regeneradores de Portugal, e não como eventuais coveiros da sua independência, se não imediata e formal, pelo menos a prazo e de facto. A racionalização dos instrumentos da acção do Estado é uma das primeiras, senão a primeira decisão a tomar. Em todos os sectores da Administração.
Com demagogia, tibieza e falta de lucidez e de espírito patriótico, não será possível afastar as graves ameaças que se colocam à nossa independência nacional.
Só com verdade, coragem, visão do interesse nacional e patriotismo, haverá possibilidade de o conseguir.
Todos seremos julgados pela História.