Os existencialistas defendem, muitas vezes, que as nossas vidas são absurdas, na medida em que vivemos na certeza de que um dia serão ceifadas pela morte. Se encararmos a nossa condição com exactidão, teremos de reconhecer a ausência de sentido de esperança, e que é inevitável que as nossas vidas terminem no nada. A questão que obviamente se levanta é se, perante a falta de sentido da vida, devemos cometer suicídio. Olhamos para o mundo procurando sinais da existência de sentido, mas o mundo permanece silencioso. O problema em torno do suicídio prende-se com a negação da liberdade que este implica, uma tentativa de escapar ao dilema trágico em que nos encontramos, e com a rejeição da possibilidade de se procurar afirmar a nossa dignidade face á morte. É necessário estabelecer valores num mundo que, em si próprio, não os possui. O suicídio aceita o absurdo como final e universal. Não somos obrigados a condicionar o nosso futuro devido à omnipresença da morte. A experiência do absurdo permite-nos experimentar, em simultâneo, a nossa condição de seres únicos, dignos e livres.
Frequentemente, argumenta-se que, se deus não existe, se não existe a imortalidade, a vida é absurda. Camus(1955) apresenta muito bem esta ideia, contrastando o modo como gostamos de encarar o mundo (ordeiro, moral, e racional) com a realidade de um mundo frio e insensível. Nagel (1971) enfatiza este ponto ao observar que empenhamos imensos cuidados e esforços nos nossos projectos, apenas para descobrir que os resultados podem ser decepcionantes e que, a longo prazo, nem sequer existem resultados, uma vez que acabamos por morrer. Este tipo de percepção cria frequentemente uma situação em que o suicídio se apresenta como uma solução tentadora. Porém, muitos filósofos criticam esta ideia por não considerar, com seriedade suficiente, a necessidade de desenvolvermos uma atitude audaz, apesar do absurdo da nossa situação. Ou seja, o facto de os nossos projectos poderem resultar em nada não implica necessariamente que deixemos de tentar realizá-los, pois não deixa de ser excitante tomar a decisão de fazer alguma coisa, apesar de se saber que o fim último da acção é transitório. Para muitos existencialistas, o reconhecimento do absurdo é isto mesmo: percebe-se a futilidade da acção e, ao mesmo tempo, age-se como se continuar a agir ou parar de agir fosse igualmente absurdo, e, no caso do suicídio, deixar de agir de todo.
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