quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Uma lembrança para o futuro

As minhas esperanças de futuro são, invarialvelmente, más, sem ambição, até porque fui educado para me contentar com aquilo que se tem, embora nem sempre esta sábia educação funcione já cheguei a uma idade, aquela idade, em que a vida se encarregou de nos ensinar o que precisamos para saber que o futuro que nos espera não será risonho, quer a nível pessoal, quer a nível profissional, e não havendo uma tirada de sorte, daquelas que sempre e apenas acontecem aos outros, já vislumbrei todo o futuro que me aguarda.
Mau grado a lembrança, até porque foi uma tragédia, dou muitas vezes por mim a lembrar o assassinato do saudoso presidente Sidónio Paes na Estação do Rossio naquele malfadado 14 de Dezembro de 1918, morto ás mãos de um revolucionário, de seu nome José Júlio da Costa, que ao contrário de muitas teses conspirativas, não pertencia á nenhuma sociedade secreta e apenas fez questão de se deslocar da sua pequena aldeia baixo-alentejana, por sinal bem próximo de onde me encontro a escrever estas linhas, e unicamente com o prepósito de acabar com o regime sidonista acabando com o seu lider, o que conseguiu com dois tiros de pistola, reclamando assim o seu próprio lugar na história.
O que pouca gente saberá são os verdadeiros motivos por trás da acção deste comunista revolucinário, e que foram unicamente a quebra de uma promessa feita pelo regime a José Julio da Costa, mediador entre as autoridades e um grupo de revoltosos anarquistas, de não prender ou deportar os mesmos em caso de rendição numa das muitas revoltas durante o ano de 1918.
Muitas lembranças, poucas conclusões, talvez eu ainda encontre o meu próprio lugar na história, não sei é ainda como, mas as seguintes linhas do mestre Teixeira de Pascoaes também muitas vezes encontram eco no meu íntimo:
«As pessoas de idade, contemporâneas ainda do Zé do Telhado, viviam no terror nocturno dos ladrões. As conversas, na lareira, como vento do inverno a gemer, lá fora, nas árvores, recaíam na história dos assaltos do celebrado bandoleiro, tão vivo naquela sua frase:
Morra um homem, e deixe fama, nem que seja de ladrão!»
Teixeira de Pascoaes - Uma Fábula