quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Outros tempos, outras escolas, melhor ensino

«Singram de novo as lusas caravelas.
O vento da fortuna enfuna as velas...
Avante! Avante! Havemos de chegar!
Resplandece no céu a nova aurora!
Alguém encarna o Portugal de outrora,
A própria alma da Pátria: É Salazar!»

João Ilharco, professor do ensino primário, fez os versos para esta página que a Escola Portuguesa - Boletim do Ensino Primário Oficial - dedica a Salazar a 9 de Maio de 1935.

«...se tens saudades da escola sem doutrina moral, sem objectivos, sem intuitos constructivos, sem pensamentos e sem chefes, sem orientação e sem comando; se te não afazes à actividade dirigida, nem te conformas com a existência de uma fiscalização com sanções; se te seduzem outras vozes que não sejam daqueles a quem está confiado o dever de te guiarem e de te esclarecerem; se desejarias ensinar o que quisesses e como quisesses; se lamentas não poderes já conduzir os teus educandos ao alvedrio dos teus sentimentos pessoais, das tuas simpatias, das tuas inclinações ou das tuas paixões...
Nesse caso, dir-te-ei que não és um dos nossos, ainda mesmo que fales do 28 de Maio ou cantes hossanas a salazar!»

«Na hora mais grave, no momento em que a descrença principiava a apoderar-se dos espíritos ansiosos, um homem surgiu em Portugal, quase desconhecido e trazendo consigo, na sua bagagem, apenas o seu diploma de lente universitário. Quem era? poucos o sabiam. Entretanto, aqueles que com ele haviam privado e não eram muitos, apontavam-no como dono de uma inteligência rara, duma pertinácia desconhecedora de obstáculos, de uma vontade inquebrantável, duma serenidade apta para resistir aos sismos mais violentos, despenhados à sua roda resistências tenazes e traiçoeiras ou pela intriga dissolvente e mortal»

Escola Portuguesa - Boletim do ensino Primário Português, 1935

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Regresso ao futuro

«A economia liberal que nos deu o super-capitalismo, a concorrência desenfreada, a amoralidade económica, o trabalho-mercadoria, o desemprego de milhões de homens, morreu já. Receio apenas que, em violenta reacção contra os seus excessos, vamos cair noutros que não seriam socialmente melhores.

As instituições políticas correspondentes, sobretudo a democracia parlamentar, não tardarão a ter a msma sorte. Ainda aqui será preciso cuidado, não vá matar-se um mal, criando outros, [...]. É certo que a desordem económica do mundo e as dificuldades daí derivadas facilitaram o advento das ditaduras, mas enganar-nos-íamos vendo na génese apenas o mal estar económico e não aspirações mais profundas de transformações políticas. As ditaduras não me parecem ser hoje parêntesis dum regime em formação. Terão inteiramente perdido o seu tempo os que voltarem atrás, assim como talvez o percam os que nelas supuserem encontrar a suma sabedoria política.»

António de Oliveira Salazar, 1934

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Nobre Raça Rottweiler

Foi com um misto de indignação, tristeza e revolta que li o editorial da Sábado de 21 de Fevereiro de 2008.
Nele vi apenas mais um vil ataque cerrado da comunicação social contra a nobre raça de cães Rottweiler, neste caso da revista Sábado, mas poderia ser de qualquer órgão da comunicação social portuguesa como tem acontecido concertadamente sempre que existe algum incidente envolvendo cães desta raça.
Todos os cães mordem, todos os cães podem ser e são, em teoria e em potência, um perigo e uma ameaça, mas não vejo este tipo de ataques contra mais nenhuma raça de canídeos, nem contra Pastores Alemães, nem contra Buldogues, nem contra os cães de fila de diversas origens, nem mesmo contra os temidos Pitbulls, mais nenhuma raça de cães consegue esta triste exposição mediática sempre que acontecem incidentes, apenas os Rottweilers.
Falam da questão genética da raça, absurdo, os Pitbull são muito mas sensíveis à questão genética, para além de originalmente serem uma raça que nasce com diferentes aparências entre os diferentes indivíduos, por vezes numa ninhada são todos desiguais o que revela bem a "qualidade" da sua genética, para além disso, têm sido cruzados indiscriminadamente e sem controlo com fim a apurar a sua maldade e ferocidade, mas nem por isso são atacados como os nobres Rottweilers.
Não tenho nada contra os Pitbull, muito pelo contrário, adoro-os como adoro os Rottweiler ou qualquer outra raça de cães, quero apenas fazer a comparação e alertar para uma injustiça.
Mas mais à frente na mesma edição da revista, uma entrevista a um médico veterinário onde o mesmo revela que existem famílias que vivem em pânico com os seus animais e alguns são mesmo reféns dos seus animais, ora ai está o problema, os donos, são sempre os donos, os mesmos que adquirem um Rottweiler porque está na moda, sem terem condições psicológicas nem materiais para possuírem cães deste porte, o cão indicado para essas pessoas é um Caniche, e mesmo assim cuidado!
Um cão revela o carácter do seu dono, do meio onde vive, do lugar onde está e das pessoas que o rodeiam, existem regras claras para ter um animal como um Rottweiler que devem ser respeitadas sob pena de continuarem a acontecer incidentes, a culpa nunca será dos cães.
Ainda gostaria também de saber porque não são procuradas e divulgadas as inúmeras histórias e episódios de bravura e heroísmo protagonizadas por cães Rottweiler em dedicação e amor aos seus donos? Porquê esta cruzada contra uma raça especifica? Poderá isto ser apelidado de racismo e xenofobia animal?
Voltando ao Editorial da Sábado, quando defendem a morte do cão que atacou, a preocupação dos jornalistas para com as criancinhas devia ser extensível aos episódios de pedofilia que acontecem todos os dias, onde milhares de crianças são abusadas, violadas e sodomizadas e os pedófilos são postos em liberdade, porque não defender a pena de morte para quem practica semelhante monstruosidade? Será o Rottweiler que ataca mais responsável do que o pedófilo que abusa e sodomiza?
Os verdadeiros monstros são os homens!


Quanto mas conheço as pessoas mais amo os animais, os cães principalmente, o meu Rottweiler em particular!

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Venceremos

«Lembra-te, amigo, que minando os fundamentos da Nossa Terra, cavando os alicerces da Nossa Pátria, cimentados por um labor tantas vezes secular, as toupeiras das alfurjas, os morcegos das lojas maçónicas, os judeus sem berço, sem pai, sem mãe, sem passado nem futuro, errantes como cães vadios, cegos da luz gloriosa do dia, da luz bendida de Deus, se escondem nas cavernas sombrias onde tudo é negro, coaxando as senhas grotescas dos iniciados, miando os seus palavrões vazios, destilando a peçonha corrosiva dos seus venenos»

AEV (Acção Escolar de Vanguarda) 1934

«Nós repudianos os falsos princípios que constituem a ossatura doutrinária do cumunismo. Negamos, por falso e iverosímel, o conceito da ideia da Pátria-Humanidade; que a História se explique apenas por intermédio do facto económico[...] nós venceremos com Salazar, por Portugal. Venceremos porque Salazar, com mão forte e segura, nos indica o caminho claro da vitória. Venceremos, porque o chefe austero de todos os portugueses, quer que a mocidade o acompanhe para o resgate completo. Venceremos, porque Salazar, com mão forte e segura, nos indica o caminho claro da Vitória! Venceremos, porque não deixamos cair das nossas mãos, a bandeira da Revolta!»

Oliveira e Silva, presidente da AEV, 1934

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Para as emergências


quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Livros - PORTUGAL SOBRENATURAL

Deuses, Demónios, Seres Míticos, Heterodoxos, Marginados, Operações, Lugares Mágicos e Iconografia da Tradição Lusíada
Este projecto, composto por três volumes, constitui o resultado de pesquisas efectua­das ao longo de três décadas por Manuel J. Gandra, investigador pioneiro no estudo da tradição cultural e espiritual do nosso país.Trata-se de um trabalho sem precedentes que, sob a forma de dicionário, nos dá a conhecer a riqueza impressionante e polifacetada da alma profunda mas, no geral, desconhecida da tradição portuguesa.Só no primeiro volume deste empreendimento inovador e de grande envergadura, o leitor tem acesso a 1300 entradas escritas com todo o rigor que caracteriza este autor.

«(…) Portugal Sobrenatural, guia essencial das pessoas, lugares, mitos e símbolos do Portugal profundo, que ainda falta cumprir, surge, justamente, com o desígnio de resgatar tal aptidão contemplativa, investindo na constituição de um corpo informal, porém sagaz e transversal, de inteligência, capacitado para (mesmo arrostando com toda a espécie de brumas, temporais e contra-tempos) ir além do tormentoso mar das paixões e medos, ou­trora figurado pelo Bojador.»

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

O meu Alentejo

Palavra mágica que começa no Além e termina no Tejo, o rio da portugalidade. O rio que divide e une Portugal e que à semelhança do Homem Português, fugiu de Espanha à procura do mar.
O Alentejo molda o carácter de um homem. A solidão e a quietude da planície dão-lhe a espiritualidade, a tranquilidade e a paciência do monge; as amplitudes térmicas e a agressividade da charneca dão-lhe a resistência física, a rusticidade, a coragem e o temperamento do guerreiro. Não é alentejano quem quer. Ser alentejano não é um dote, é um dom. Não se nasce alentejano, é-se alentejano.

Portugal nasceu no Norte mas foi no Alentejo que se fez Homem. Guimarães é o berço da Nacionalidade, Évora é o berço do Império Português. Não foi por acaso que D. João II se teve de refugiar em Évora para descobrir a Índia. No meio das montanhas e das serras um homem tem as vistas curtas; só no coração do Alentejo, um homem consegue ver ao longe.

Mas foi preciso Bartolomeu Dias regressar ao reino depois de dobrar o Cabo das Tormentas, sem conseguir chegar à Índia para D. João II perceber que só o costado de um alentejano conseguia suportar com o peso de um empreendimento daquele vulto. Aquilo que para o homem comum fica muito longe, para um alentejano fica já ali. Para um alentejano não há longe, nem distância porque só um alentejano percebe intuitivamente que a vida não é uma corrida de velocidade, mas uma corrida de resistência onde a tartaruga leva sempre a melhor sobre a lebre.

Foi, por esta razão, que D. Manuel decidiu entregar a chefia da armada decisiva a Vasco da Gama. Mais de dois anos no mar... E, quando regressou, ao perguntar-lhe se a Índia era longe, Vasco da Gama respondeu: «Não, é já ali.». O fim do mundo, afinal, ficava ao virar da esquina.
Para um alentejano, o caminho faz-se caminhando e só é longe o sítio onde não se chega sem parar de andar. E Vasco da Gama limitou-se a continuar a andar onde Bartolomeu Dias tinha parado. O problema de Portugal é precisamente este: muitos Bartolomeu Dias e poucos Vasco da Gama. Demasiada gente que não consegue terminar o que começa, que desiste quando a glória está perto e o mais difícil já foi feito. Ou seja, muitos portugueses e poucos alentejanos.

D. Nuno Álvares Pereira, aliás, já tinha percebido isso. Caso contrário, não teria partido tão confiante para Aljubarrota. D. Nuno sabia bem que uma batalha não se decide pela quantidade mas pela qualidade dos combatentes. É certo que o Rei de Castela contava com um poderoso exército composto por espanhóis e portugueses, mas o Mestre de Avis tinha a vantagem de contar com meia-dúzia de alentejanos. Não se estranha, assim, a resposta de D. Nuno aos seus irmãos, quando o tentaram convencer a mudar de campo com o argumento da desproporção numérica: «Vocês são muitos? O que é que isso interessa se os alentejanos estão do nosso lado?»

Mas os alentejanos não servem só as grandes causas, nem servem só para as grandes guerras. Não há como um alentejano para desfrutar plenamente dos mais simples prazeres da vida. Por isso, se diz que Deus fez a mulher para ser a companheira do homem. Mas, depois, teve de fazer os alentejanos para que as mulheres também tivessem algum prazer. Na cama e na mesa, um alentejano nunca tem pressa. Daí a resposta de Eva a Adão quando este, intrigado, lhe perguntou o que é que o alentejano tinha que ele não tinha: «Tem tempo e tu tens pressa.» Quem anda sempre a correr, não chega a lado nenhum. E muito menos ao coração de uma mulher. Andar a correr é um problema que os alentejanos, graças a Deus, não têm. Até porque os alentejanos e o Alentejo foram feitos ao sétimo dia, precisamente o dia que Deus tirou para descansar.
E até nas anedotas, os alentejanos revelam a sua superioridade humana e intelectual. Os brancos contam anedotas dos pretos, os brasileiros dos portugueses, os franceses dos argelinos... só os alentejanos contam e inventam anedotas sobre si próprios. E divertem-se imenso, ao mesmo tempo que servem de espelho a quem as ouve.

Mas para que uma pessoa se ria de si própria não basta ser ridícula porque ridículos todos somos. É necessário ter sentido de humor. Só que isso é um extra só disponível nos seres humanos topo de gama.
Não se confunda, no entanto, sentido de humor com alarvice. O sentido de humor é um dom da inteligência; a alarvice é o tique da gente bronca e mesquinha. Enquanto o alarve se diverte com as desgraças alheias, quem tem sentido de humor ri-se de si próprio. Não há maior honra do que ser objecto de uma boa gargalhada. O sentido de humor humaniza as pessoas, enquanto a alarvice diminui-as. Se Hitler e Estaline se rissem de si próprios, nunca teriam sido as bestas que foram.
E as anedotas alentejanas são autênticas pérolas de humor: curtas, incisivas, inteligentes e desconcertantes, revelando um sentido de observação, um sentido crítico e um poder de síntese notáveis.
Não resisto a contar a minha anedota preferida. Num dia em que chovia muito, o revisor do comboio entrou numa carruagem onde só havia um passageiro. Por sinal, um alentejano que estava todo molhado, em virtude de estar sentado num lugar junto a uma janela aberta. «Ó amigo, por que é que não fecha a janela?», perguntou-lhe o revisor. «Isso queria eu, mas a janela está estragada.», respondeu o alentejano. «Então por que é que não troca de lugar?» «Eu trocar, trocava... mas com quem?»
Como bom alentejano que me prezo de ser, deixei o melhor para o fim. O Alentejo, como todos sabemos, é o único sítio do mundo onde não é castigo uma pessoa ficar a pão e água. Água é aquilo por que qualquer alentejano anseia. E o pão.. Mas há melhor iguaria do que o pão alentejano? O pão alentejano come-se com tudo e com nada. É aperitivo, refeição e sobremesa. E é o único pão do mundo que não tem pressa de ser comido. É tão bom no primeiro dia como no dia seguinte ou no fim da semana. Só quem come o pão alentejano está habilitado para entender o mistério da fé. Comê-lo faz-nos subir ao Céu!

É por tudo isto que, sempre que passeio pela charneca numa noite quente de verão ou sinto no rosto o frio cortante das manhãs de Inverno, dou graças a Deus por ser alentejano. Que maior bênção poderia um homem almejar?

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Navios Portugueses - Contratorpedeiro Tejo













A canhoneira torpedeira TEJO foi construída em Portugal no Arsenal de Lisboa, sendo incorporada em 1904. No entanto as suas experiências prolongaram-se até 1906. Em 25 - 8 - 1910 encalhou em Peniche, tendo perdido 11 metros de proa durante o seu salvamento. Cinco anos após o encalhe, entrou no dique do Arsenal a fim de ser transformado em contratorpedeiro. Em 1917 voltou ao serviço com nova silhueta tendo sido abatida em 14 - 3 - 1927.










DESLOCAMENTO: 536 tons.
DIMENSÕES: 70 * 7 * 3,1 metros
ARMAMENTO: 1 peça de 100 mm; 1 de 65 mm; 4 de 47mm; (1904) 1 peça de 100 mm; 1 de 76mm; 2 de 47mm. (1917) 2 tubos lança – torpedos
PROPULSÃO: 2 máquinas de T.E. de 7 000
H.P. - 2 veios = 27 nós
GUARNIÇÃO: 94 (1904) 99(1917) homens

sábado, 2 de fevereiro de 2008

Entrudo Português - A Tradição

Ainda resistem em Portugal algumas celebrações do Entrudo que mantêm a sua singularidade, de acordo com as nossas tradições. Em Trás-os-Montes contam-se pelo menos três: Lazarim, Vinhais e Podence.

Em Lazarim, o Entrudo é uma festa local, quase privada, cuidadosamente preparada nas semanas que a antecedem. O ponto alto é a leitura pública das «deixadas», testamentos que dividem simbolicamente um burro pelos rapazes e raparigas da aldeia. Jocosas, trocistas e irónicas, são preparadas em segredo pelos mais novos, que muitas vezes recorrem à sabedoria e conhecimento dos mais velhos, repetindo a tradição. Os testamentos são ouvidos em silêncio pelos mascarados para não serem reconhecidos pelas vítimas das suas diabruras.
Mas a festa não fica completa sem o Desfile de Caretos, o Concurso de Máscaras (feitas em madeira pelos artesãos locais) e a Queima dos Compadres - o compadre e a comadre, dois bonifrates carregados de pólvora e que, na terça-feira, põem ponto final à festa e à rivalidade que durante várias semanas opôs rapazes e raparigas.
Fundamentais são também as refeições cerimoniais à base de carne de porco, que marcam o início do período de abstinência da Quaresma.
Se o discurso jocoso e a troça pública marcam o momento mais significativo do ritual carnavalesco de Lazarim, em Vinhais e Podence é o movimento e a acção endiabrada dos mascarados que predomina.
A acção dos diabos de Vinhais já não produz hoje os efeitos temidos de outrora, quando as raparigas não se atreviam a sair à rua. O ritual de punição e correrias pelas ruas da vila é hoje uma manifestação tímida e cada vez mais incerta, com não mais do que uma dezena de mascarados.
Mas, em Podence, pequena aldeia situada a poucos quilometros de Macedo de Cavaleiros, a tradição está de boa saúde e conserva ainda uma boa parte da licenciosidade «selvagem» que sempre a caracterizou.
Os dias grandes da festa são o Domingo Gordo e Terça-feira de Carnaval e os Caretos só param para matar a sede ou para combinarem mais uma investida sobre o Largo da Capela, a pequena praça da aldeia onde todos assistem ao ritual.
Às iras dos Caretos endiabrados ninguém se atreve a opôr-se. Apenas as Matrafonas (raparigas disfarçadas de homens e vice-versa) são poupadas à sumária justiça carnavalesca, assaz singular no caso da aldeia transmontana: os demónios mascarados lançam-se ao assalto das moças e encostando-se a elas, ensaiam uma dança um tanto erótica, agitando a cintura e fazendo embater os chocalhos que trazem pendurados contra as ancas das vítimas.
Na investida bárbara que faz ecoar por toda a aldeia o alarido dos chocalhos e o tropel surdos dos passos, os Caretos levam tudo pela frente, indistintamente. Por detrás da máscara de latão os olhos procuram muitas vezes as moças mais apetecidas, quer sejam da terra ou de fora, para o sacrifício. Não conhecem entraves ou proibições: subir às varandas, trepar aos telhados ou correr pelo Largo da Capela. Tudo vale para «chocalhar» e misturar o tilintar dos chocalhos com os risos das raparigas.
Na Terça-feira Gorda, a aldeia mergulhará novamente numa vertigem de correrias e travessuras que só terminarão com o cair da noite e com o cansaço dos demónios de fatos de franjas de cores vivas.

Entrudo Português

“- Palhas, alhas leva-as o vento!
- Oh, oh, oh... - Aqui se vai formar e ordenar um casamento.
- Oh, oh, oh... - E quem é que nós havemos de casar?
- Tu o dirás.
- Há-de ser a Maria Rita que mora no bairro do Castelo.
- Oh, oh, oh... - E quem é que nós havemos de dar para marido?
- Tu o dirás.
- Há-de ser o João da Rua que mora lá em baixo no Porto.
- Oh, oh, oh... - E que nós havemos de dar de dote a ela?
- Tu o dirás.
- Há-de ser uma máquina de costura, porque ela é uma boa costureira.
- E que é que nós havemos de dar de dote a ele?
- Tu o dirás.
- Há-de ser uma terra ao Souto, para que não saia um de cima do outro enquanto for Inverno.”

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Portugal Imortal