Um dia de manhã, ao chegar á sua residência, encontrei o Doutor Salazar, Presidente do Conselho, com um pé engessado por virtude de uma fractura nos dedos do pé direito. Isto passava-se em Junho de 1966, quando em Londres decorria o campeonato do mundo de futebol onde o jogador Eusébio constituía a pedra fulcral da selecção portuguesa. Depois de me certificar de que o Doutor Salazar não tinha dores nem a fractura lhe estava a causar grande incómodo, não resisti a dizer-lhe: «Antes V. Ex. do que o Eusébio.» O presidente do Conselho achou graça ao dito, tanto assim que no mesmo dia, ao falar com o Dr. Franco Nogueira, o próprio Doutor Salazar comentou: «Grave, grave e de consequências nacionais seria se isto tivesse acontecido ao Eusébio.»
José Luciano Sollari Allegro
Secretário particular entre 1947-1960
sexta-feira, 23 de novembro de 2007
Testemunhos
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sexta-feira, 26 de outubro de 2007
Por outro lado
«O isolamento e a aparente frieza do Doutor Salazar eram um escudo e uma defesa para esconder a sua sensibilidade muito humana. Era conhecido o agrado que lhe causava a presença das crianças, respondia a muitas cartas que estas lhe dirigiam e manteve correspondência, durante anos, com algumas pequenas Austríacas que, através da Caritas, haviam sido acolhidas em Portugal para fugirem às terriveis dificuldades sofridas pelo seu país no pós-guerra.
A mesma sensibilidade se revelava no gosto com que o Doutor Salazar apreciava as obras de arte e as flores, mas tinha a preocupação de que essa sensibilidade não prejudicasse a análise fria dos problemas. Ele próprio disse um dia que «era possivel fazer política com o coração, mas só se podia governar com a cabeça». Por isso era avesso àquilo que hoje se chama banho de multidão.
O silêncio, o isolamento e o fugir a muitas coisas que normalmente causam agrado às pessoas permitiam-lhe conservar uma liberdade de espírito para tratar dos problemas com a isenção necessária e cumprir sempre aquilo que considerava um imperativo do dever.»
José Luciano Sollari Allegro
Secretário Particular de Salazar entre 1947/1960
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quinta-feira, 18 de outubro de 2007
Quando os governantes eram honestos....
José Luciano Sollari Allegro
Secretário Particular de Salazar entre 1947/1960
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quarta-feira, 26 de setembro de 2007
Testemunhos
«Sem lhe negar uma inteligência excepcional, não foi esta que mais me impressionou. Foi sem dúvida a sua vontade: uma vontade de aço que nada fazia flectir.
Ao contrário da opinião mais expendida, Oliveira Salazar não era uma personalidade monolítica: era uma personalidade facetada e até contraditória. Se considerarmos os aspectos humanos de um indivíduo como sendo representados pelo conteúdo de um copo de água, Salazar era uma taça onde haviam sido deitados vários copos...Assim, era um céptico inveterado que, no fundo, não acreditava em nada nem em ninguém; mas trabalhava com todos e em tudo, como se em tudo e em todos acreditasse. De uma frieza capaz de não hesitar ante um acto sacrificando vidas humanas (lembremos a defesa da Índia), comovia-se quase até ás lágrimas ao ler a carta de um pedinte profissional, que dizia estar inválido, e a mulher no hospital, e os filhos com fome - embora, no fundo, suspeitasse de que era tudo mentira. Atento como poucos á presença, no dia -a-dia, das grandes opções do Homem e da História, passava (ou perdia...) imenso tempo escolhendo uma gravura ou uma fotografia para uma edição secundária: são conhecidos os promenores que anotava e emendava , nas suas visitas ou textos que corrigia. Dotado de uma memória prodigiosa e de uma sólida cultura humanista (que nunca descurou), sabia como poucos, vencendo uma timidez inata mas fácil de descobrir, assumir o sentido da grandeza e da História nos seus actos e nas suas palavras. Era muito sensivel ás honrarias: queria-as todas, mas para depois as desprezar. E sendo um homem simples no estilo de vida, era ao mesmo tempo um verdadeiro homem da Renascença na subtileza da sua cultura, nesse sentido de grandeza a que já aludi. De uma susceptibilidade quase doentia (por vezes, tudo o podia ofender), não hesitava em colaborar com quem lhe não inspirava confiança ou até julgava capaza de trair. Sendo acima de tudo um homem de formação tradicionalista e mesmo rotineira, nenhuma inovação lhe metia medo e a desaconselhava aos colaboradores.
Paricularmente sensivel e apto, pela sua formação de base, para a percepção dos grandes princípios (para ele muito poucos, mas em cuja defesa era intransigente e rígido), tinha a ânsia de conhecer os promenores, e isso levava-o a desejar - e até pedir - descrições e esquemas que lhe permitissem uma ideia clara das realidades concretas, que não procurava conhecer directamente. Dai o espanto que causava quando, sem nunca ter estado numa cidade, aqui ou no Ultramar, pedia informaçõres sobre o adiantamento das obras de construcção de um edificio nela situado e o localizava com precisão. Tinha pela terra e pelos seus problemas o amor do pequeno proprietário rural. E a sua percepção estática, embora tendendo para parâmetros clássicos, era extremamente apurada.
Quando o Prof. Oliveira Salazar faleceu, fui um dos convidados a fazer um depoimento enquanto decorria o funeral. Terminei-o com as seguintes palavras: Pense-se o que se pensar da sua obra, não é possivel evocar este Homem sem que ressoem na nossa memória as grandes frases dos grandes clássicos. Sim, porque foi tal o seu peso sobre a nossa época que até os olhos que dele fogem o encontram por toda a parte. Sempre sobre a minha geração se projecta o seu vulto enorme. E sempre Salazar, deslumbrante ou sombrio, no limiar de todo um século está de pé.»
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quarta-feira, 19 de setembro de 2007
Testemunhos
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