«O isolamento e a aparente frieza do Doutor Salazar eram um escudo e uma defesa para esconder a sua sensibilidade muito humana. Era conhecido o agrado que lhe causava a presença das crianças, respondia a muitas cartas que estas lhe dirigiam e manteve correspondência, durante anos, com algumas pequenas Austríacas que, através da Caritas, haviam sido acolhidas em Portugal para fugirem às terriveis dificuldades sofridas pelo seu país no pós-guerra.
A mesma sensibilidade se revelava no gosto com que o Doutor Salazar apreciava as obras de arte e as flores, mas tinha a preocupação de que essa sensibilidade não prejudicasse a análise fria dos problemas. Ele próprio disse um dia que «era possivel fazer política com o coração, mas só se podia governar com a cabeça». Por isso era avesso àquilo que hoje se chama banho de multidão.
O silêncio, o isolamento e o fugir a muitas coisas que normalmente causam agrado às pessoas permitiam-lhe conservar uma liberdade de espírito para tratar dos problemas com a isenção necessária e cumprir sempre aquilo que considerava um imperativo do dever.»
José Luciano Sollari Allegro
Secretário Particular de Salazar entre 1947/1960
sexta-feira, 26 de outubro de 2007
Por outro lado
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