Ontem como hoje a objectividade e actualidade do texto, mais do que nunca o nosso Portugal está seriamente ameaçado:
"No momento em que Portugal está a caminho de ficar sob tutela internacional, que outro espírito pode e deve e tem, necessariamente, de animar-nos (e cada vez mais, daqui por diante), senão aquele puro espírito que, na manhã de 1 de Dezembro de 1640, conduziu este Povo à restauração da independência nacional, ao cabo de sessenta anos de presúria e de ocupação estrangeiras?!...Portugal é hoje, e de novo, um país ocupado por forças e por ideologias que nos são, de resto, muitíssimo mais estranhas, e que se têm revelado incomparavelmente mais devastadoras e espoliatórias do que o foram as de há 336 anos — ao ponto de estarmos agora, para aqui, à beira de deixarmos de ser coisa que se veja... Tanto ou talvez mais do que sob a dominação dos Filipes, o nosso país, a estas horas, é fronteira aberta ao invasor — que nos ocupou, física, psíquica e metafisicamente, confiscando-nos parasitariamente o sangue e o suor de cinco séculos de História honrosamente acumulados.Atentaram mortalmente contra o território, invadiram-nos a alma e o pensamento. Dir-se-ia que fomos acometidos de uma amnésia de quinhentos anos de passado glorioso. Aos desígnios d`A RUA tem presidido desde início a chama desse espírito, cem por cento orientado para o resgate nacional, e que procede, em linha recta, da gloriosa alvorada dos Restauradores. Por isso mesmo, não quisemos nem podíamos aqui deixar passar em claro a histórica data do 1.º de Dezembro, ao contrário de toda a Imprensa de Ocupação — que passou pelo dia de ontem como cão por vinha vindimada ou, quando muito, como gato por brasas..."
Manuel Maria Múrias
(In A Rua, n.º 35, pág. 1, 02.12.1976)