terça-feira, 21 de agosto de 2007

A arte de ser Português

«Ser Português é também uma arte, e uma arte de grande alcance nacional, e , por isso, bem digna de cultura.
O mestre que a ensinar aos seus alunos, trabalhará como se fora um escultor, modelando as almas juvenis para imprimir os traços fisionómicos da Raça lusíada. São eles que a destacam e lhe dão personalidade própria, a qual se projecta em lembrança no passado, e em esperança e desejo no futuro. E, em si, realiza, deste modo, aquela unidade da morte e da vida, do espirito e da matéria, que caracteriza o ser.
O fim desta arte é a remascença de Portugal, tentada pela reintegração dos portugueses no carácter que por tradição e herança lhes pertence, para que eles ganhem uma nova actividade moral e social, subordinada a um objectivo comum superior. Em duas palavras: colocar a nossa Pátria ressurgida em frente do seu destino.
As descobertas foram o início da sua obra. Desde então até hoje tem dormido. Desperta, saberá concluí-la..... ou melhor, continuá-la, porque o definitivo não existe.

RAÇA ( Portuguesa)
Empregámo-la como significado um certo número de qualidades electivas (num sentido superior) próprias de um povo, organizado em Pátria, isto é, independente, sob o ponto de vista politico e moral.
Tais qualidades são de natureza animal e espiritual, resultantes do meio físico (paisagem) e da herança étnica, histórica, júridica, literária artistica, religiosa e mesmo económica.
Herança, neste caso, significa também tradição.
Uma raça possui os caracteres de um ser vivo, e como tal a devemos considerar.

HERANÇA E TRADIÇÃO
Estas palavras têm, para nós, um sentido colectivo.
Se o português, como individuo, herda as qualidades de família, herda igualmente as da sua Raça, porque o homem não cabe dentro dos seus limites individuais.
O português participa também da herança étnica histórica ou tradicional, adquirindo assim uma segunda vida que, por mais vasta, abrange e domina a sua existência de individuo.
O homem transviado tem de voltar atrás, ao local seu conhecido, para ai retomar a verdadeira via, o rumo que o levará ao seu destino. O que parece ser um regresso não é mais, afinal, do que um avanço.
O carácter é a expressão total das qualidades, conservadas e transmitidas pela herança e tradição, que definem uma Raça.
Quanto a estas qualidades, são as próprias da Raça que devemos cultivar. Não há maior erro que a pretendida substituição das qualidades próprias por aquelas que admiramos nos outros Povos.
Destruimos por completo o nosso carácter e adulteramos, em nós, o que há de bom nos estrangeiros. Não troquemos a nossa figura pela máscara importada.
Ao espirito simiesco, de imitação, opunhamos o espirito de iniciativa criadora.
Mas nós temos qualidades próprias? Responde afirmativamente a nossa História oito vezes secular; a nossa História religiosa, artistica, politica, jurídica e literária.
As qualidades próprias (o carácter) fazem a Raça, como dissemos; e esta ,por sua vez, dá origem à Pátria.»
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Teixeira de Pascoaes