Carácter e Personalidade
«...O carácter é a expressão total das qualidades, conservadas e transmitidas pela herança e tradição, que definem uma Raça.
A sua actividade visa um fim social, económico, religioso, artistico, etc.
Quanto estas qualidades, são as próprias da Raça que devemos cultivar. Não há maior erro que a pretendida substituição das qualidades próprias por aquelas de admiramos nos outros povos. Destruímos por completo o nosso carácter e adulteramos, em nós, o que há de bom nos estrangeiros. Não troquemos a nossa figura pela máscara importada.
Ao espírito simiesco, de imitação, oponhamos o espírito de iniciativa criadora.
Mas temos nós qualidades próprias? Responde afirmativamente a nossa história oito vezes secular; a nossa história religiosa, astistisca, politica, jurídica e literária.
As qualidades próprias (o carácter) fazem a Raça, como dissemos; e esta, por sua vez, dá horigem à Pátria.
Uma Raça independente, sob o ponto de vista político, é uma Pátria.
Há muitos povos independentes que constituem Reinos, Nações, Impérios, mas não uma Pátria. A Àustria, por exemplo, é uma Administração, conforme lhe chamava Mazzini.
Queria ele dizer que lhe faltavam as qualidades próprias que definem a Raça.
Os Estados Americanos representam Pátrias ainda em Formação. É natural que, sob a influência dos séculos e do meio, começem a criar e a fixar um certo número de qualidades originais que os tornem verdadeiras Pátrias, no futuro.
A Raça portuguesa, antes de ser uma Pátria e mesmo nos primeiros tempos de independência, vivia como latente e diluída nos outros povos da Ibéria. Mas o esboço primitivo definiu-se e a nítida figura apareceu. A Lingua e os sentimentos por ela traduzidos cristalizaram, destacando-se, em alto relevo, da confusão originária.
E Portugal é uma Raça contituindo uma Pátria, porque adquirindo uma Língua própria, uma História, uma Arte, uma Literatura, também adquiriu a sua independência politica.
Teixeira de Pascoaes
A arte de ser português