quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Na beira da cadeira

«Minha avó materna lembra-me sempre a minha prima Vitória....só de nome, por ironia do Destino.
Órfã, sem fortuna, e nova ainda, acolheu-se à protecção de meus avós maternos. Aparentava quarenta anos, quando eu contava apenas dez.
Fazia meia, rendas, pastéis de Entrudo, trabalhava o dia inteiro. Orgulhosa, queria merecer o que recebia: vestuário, cama e mesa, onde jantava connosco e almoçava.
Numa atidute constrangida, sentava-se na beira da Cadeira, para a não possuir completamente. Não se julgava digna de tal posse!»
Teixeira de Pascoaes "Uma Fábula"
Ao ler estas singelas palavras do mestre Pascoaes visualizo sempre na minha imaginação a Assembleia da República Portuguesa, com todos os deputados sentadinhos nas beiras das suas cadeiras, os ministros do governo, sentadinhos mesmo na beirinha das suas cadeirinhas, se fossem honestos saberiam que não são dignos delas, não as mereceram, não as merecem nem nunca farão nada por merecer as cadeiras onde, de quando em quando, sentam os bovinos rabos.